"A forma como as pessoas caminham pode influenciar a probabilidade de serem assaltadas, segundo uma série de pesquisas feita por cientistas. A boa notícia é que podemos mudar a forma como caminhamos para reduzir as probabilidades de um assalto.
A forma como caminhamos revela muito a nosso respeito. Talvez até demais, se estivermos a ser observados pela pessoa errada.
A maior parte dos assaltos na rua é cometida por um grupo pequeno de criminosos. E esses assaltos são distribuídos de forma desigual na população: algumas pessoas são assaltadas várias vezes, enquanto outras nunca passam por isso.
A questão de quem é assaltado e quem é poupado tem sido estudada por cientistas desde os anos 1980.
Nessa década, dois psicólogos de Nova York, Betty Grayson e Morris Stein, fizeram um estudo para descobrir que tipo de “qualidades” os assaltantes procuram nas suas vítimas.
Stein e Grayson filmaram várias imagens de pessoas comuns a caminhar pelas ruas de Nova Iorque, e mostraram os vídeos a criminosos de uma grande penitenciária americana.
Ajuda de presidiários
As filmagens foram analisadas por 53 criminosos – com histórico de assaltos e até assassinatos.
Os criminosos fizeram um ranking de quão seria assaltar cada uma das pessoas filmadas – com notas numa escala de zero a dez, em que dez era a pessoa mais difícil de ser assaltada.
Várias pessoas apareceram constantemente na lista de alvos fáceis. Alguns grupos eram previsíveis: mulheres eram consideradas mais vulneráveis que homens; idosos mais fáceis do que jovens.
Mas o estudo revelou padrões interessantes. Na categoria de homens jovens – em tese considerados alvos difíceis – mais de metade eram classificados como fáceis de assaltar, com notas de um a três.
Os investigadores passaram então a estudar os movimentos do corpo das pessoas analisadas pelos criminosos. Para isso, pediram a ajuda de dançarinos profissionais, que usaram o sistema Laban de análise do movimento – uma técnica de estudo do movimento do corpo humano.
Mas apesar de identificarem o movimento do corpo como o factor determinante nas decisões dos criminosos, a investigação de Grayson e Stein tinha uma falha evidente: não levava em consideração uma série de variáveis potencialmente importantes, como o tipo de roupa usada pelas vítimas ou apostura da cabeça.
Duas décadas depois, um grupo de investigadores da universidade de Canterbury, na Nova Zelândia, fez um estudo mais detalhado.
Estes cientistas usaram um sistema conhecido em inglês como PLW (point light walker), que consiste em vestir pessoas com roupas escuras e luzes colocadas nos pontos de junção do corpo.
Desta forma, é possível ver apenas o movimento da pessoa, sem identificar qualquer outra coisa – como o rosto ou dimensão do corpo.
Com os PLW, é possível “ler” várias coisas no movimento humano, desde o sexo da pessoa até à sua disposição.
Essa leitura é semelhante à que fazemos quando identificamos uma pessoa conhecida à distância, reconhecendo apenas o movimento do seu corpo, mesmo antes de conseguirmos ver-lhe o rosto.
Com esta técnica, foi possível demonstrar que alguns indivíduos continuavam a ser escolhidos como vítimas preferenciais, exclusivamente em virtude da forma como se movimentam – pois todas as outras variáveis tinham sido excluídas.
Com esta conclusão, foi finalmente possível demonstrar que o movimento das vítimas era de facto o factor principal na escolha dos assaltantes.
Aprendendo a andar
A conclusão mais interessante do trabalho da universidade neozelandesa foi que as pessoas podemmodificar a forma como caminham, para evitar ser assaltadas.
Numa nova investigação, voluntários foram filmados antes e depois de fazer um curso de defesa pessoal. Com ajuda dos PLW, outras pessoas (não criminosos, desta vez) analisaram o grau de vulnerabilidade de cada um dos voluntários.
Surpreendentemente, os cursos de defesa pessoal não tiveram influência na forma como cada um se movimentava.
Seguidamente, os cientistas organizaram aulas de movimento corporal para os voluntários, ensinando os voluntários a moverem-se com mais energia e sincronia.
Estas duas características são apontadas às pessoas com menor vulnerabilidade.
Um mês depois das aulas, os voluntários voltaram a ser analisados – e todos apresentaram uma diminuição do seu grau de vulnerabilidade.
As pesquisas relacionadas com movimento confirmam a ideia de que é possível prever e “ler” as atitudes das pessoas, antes mesmo que elas se manifestem.
É o que fazem todos os bons jogadores de poker, quando tentam perceber quem está a fazer bluff."
Este é o artigo original publicado no ZAP mas que é bastante interessante e vai de encontro a minha própria opinião sobre a defesa pessoal e razão porque algumas pessoas são mais atingidas do que outras.
Não poucas vezes sou questionado por pessoas sobre defesa pessoal e técnicas de defesa pessoal.
Sendo certo que algumas coisas podem ser ensinadas, isso, de facto, não altera grandemente as condições de segurança das pessoas. Por outro lado, tenho me questionado sobre a validade da prática de artes marciais na sua aplicação em defesa pessoal.
Muitas vezes sou questionado sobre esta questão e, objectivamente, não consigo explicar como pode não ser o melhor, para quem queira aprender a defender-se, aprender técnicas e formas aplicada em vez de aprender uma arte marcial com toda a austeridade, monotonia e repetição que normalmente envolvem.
Penso que esta é uma explicação. Ao passo que cursos de defesa pessoal podem dar realmente algumas ferramentas, eles não se focalizam num aspecto importante... E que é precisamente o referido neste artigo. Qualidade de movimento e treino do corpo para se mover de determinada forma. Isso é algo fundamental em qualquer arte marcial tradicional!
Postura, deslocação e equilíbrio não são técnicas de defesa pessoal. Mas é o desenvolvimento destas capacidades que fará com que uma determinada pessoa seja vista como um alvo, ou presa, muito mais difícil, e o efeito dissuasor disso é de facto muito importante.
Portanto, esta pode ser uma boa razão para pensar em aprender artes marciais, e se estiver interessado em desenvolver as suas capacidades de defesa pessoal, e não conseguir entender porque está a aprender a dar um passo em vez de aprender como se faz uma chave de braço... Esta é uma explicação muito boa.